5 de jun. de 2013

Não durma agora

Você se lembra quando tudo era tão somente nós?
Você me carregava em asas porque eu era fraco
e me fez ler muita graça no correr de cada dia
a esperar um bem mais belo ao deitar de toda noite.
Mostrou-me, doce e terna, que caminho bom é aquele
que juntos ladrilhamos rumo ao nosso “para sempre”.
Anos passam, outros passos eu aprendo ao seu lado:
soerguer-se do tropeço que os alheios vis nos causam;
promover a humanidade que os alheios bons precisam;
rir cantando em honra à vida enquanto persistir o instante.
Anos passam, o peso neles turva os olhos, seca a boca
e apodera-se do corpo já fraterno da rotina.
Só então concluo: é o medo de andar sozinho em frente
(ato, este, irreparável; no entanto, necessário)
que me faz, assim, pedir-lhe que descanse e nada mais
 sossegue, mas não busque o sono antigo de seus pais;
continue a maravilha que é existir de amor e dá-lo;
eis aqui o maior desejo deste seu pequeno filho.
Por favor, eu clamo, mãe, perdure, sim, não durma agora.
Temos chão a percorrer, pois portas nossas dão pra fora.
Só por hoje e apenas hoje e amanhã brado de novo:
durma agora, não, mamãe. Descanse, mas não durma agora.

Mergulhão

Malsã

Se dor é marca de matéria em vida,
amor é carma de espírito em chama.
Você é meu cancro
no coração
 ferida-fenda à qual renego
milagre insano ou cura vã ;
câncer do qual reconheço
cor, amarra, gosto, fado e fim.
Despetale-me e mui mal me queira:
coito em cólera de carne à cama,
à relva, à rua ou ao rio deriva
o deleite exato da viril função.
Não venha placebo
(de salubre sina ou de morfina em prece);
chegue malsão.

Mergulhão