27 de ago. de 2015

Imperioso

Quando amor desprojetar
e abstratos refletir,
transmuta-te tu
côncavo
a complexo
sem eixo.

Quando amor se transbordar
a não mais margem caber,
permuta-te tu
a 3
de quatro
às 6h09.

Quando amor enceguecer
por paixão visualizar,
transmite-te tu
em Braille
de odor
e som.

Quando amor desnovelar
ou sem fio for fenecer,
permite-te tu
meu eu
contigo
em nós.


Mergulhão

19 de ago. de 2015

it etc.

- Tô afim.
- Desiste.
- Ele não é gay?
- Vive com a Ju.
- Ju? De Juliana? Jurema?
- Jussiê.
- Jussiê? Mas... isso é homem ou mulher?
- É a Ju.
- Quê?! Tá: tem pinto?
- Não vejo. Acho que tem.
- Então é homem!
- Só pelo pinto?
- Claro, porra!
- Hum. Bom, ela mija.
- Mas por que “a” Ju?
- Ela gosta assim.
- Então é tipo Madame Satã?
- Não.
- Ele não se monta? Tipo tia Silvetty? RuPaul? Elke?
- Não.
- Boy George? Gaga? Björk? Bowie?
- Não.
- Ah, caralho. Ok. Ele é tipo Andreja Pejic ou Knauerova?
- Nem Tilda Swinton nem Elly Jackson do La Roux nem o filho mais novo de HermiRony no finalzinho do HP7 parte 2.
- Só me diz se ele vai tirar o pau...
- Cara, não sei nada sobre o pau dela!
- “Dela”! Para com isso! Mas que coisa!
- Tu que pergunta.
- Tu que não sabe dizer se é amapô ou não, idiota!
- Pra quê?
- Pra ver se é homem!
- Só pelo pinto?
- De novo isso?!
- Ok, se tu só vê assim.
- Bi, quero saber se o Fê é gay! Só!
- Ele é da Ju.
- Que é homem.
- Que é a Ju. Que é dele. Já falei. Melhore.
- Puta merda!, a falta do it...
- Ou do etc. em ti.


Mergulhão

17 de ago. de 2015

Ei, machista,

eu tenho esposa. Não preciso do teu pau
e não por falta do teu pau eu a tenho:
por presença de amor.
Ainda que eu fosse dona de casa, machista,
primeiramente seria porque sim;
seria por efeito dos trabalhos que exerço;
propriedade minha
como o corpo que tatuo,
como as calças que costuro,
como a cabeça que raspo,
como o aborto que sugiro.
Passou o tempo, machista,
de teu estupro doer mais que o gozar de meus direitos.
Tu queres ter vislumbre do retrato que te afronta?
Olha à volta! Sou o povo
em preto e branco e colorido
que dentro de um mesmo eu
é homo, pluri, é inter, pan,
é mulher, trans, é homem, sapiens;
filho da puta mãe gentil que acolhe mesmo sem parir.
Guarda o que eu falo, São Machista:
vem com ódio e faço amor sem cartilha ou divisão,
sem calcinha, com a mão
e a certeza de gritar ao mundo inteiro “hoje eu venci”.


Mergulhão

14 de ago. de 2015

Respeite o velho

A corcunda do velho é o peso do mundo.
A catarata do velho é uma falha no SUS.
O infarto do velho é o ócio em seu vício.
A surdez do velho é o dar ombro às dores.
O fedor do velho é a escolha altruísta.
A ruga do velho é a noite em vigília.
O calo do velho é o ovo sobre à mesa.
A variz do velho é a busca por empregos.
A mancha do velho é mais busca por empregos.
A solidão do velho é a injustiça do ciclo.
A demência do velho é a carga das vidas.
A corcunda do velho é o peso do mundo.


Mergulhão

Rótulo de garrafa em passeio por Ver-O-Peso

“Simpatia para o amor”
Antipático, dei meia-volta; comprei maconha.


Mergulhão

dose

preciso de deus
qualquer um
sem gelo


del Praga.

3x3


Orou o tolo
por cobiça, inveja
e maculou o Tudo divino.
Deu aprendiz
bom-dia ao Pai
e abençoado venceu rotina.
Fez aprendiz
preces à Mãe
e dela viu-se força motriz.
Misturou Sábio
azul ao vermelho
e obteve paletas de roxo.
Semeou Sábio
milho e centeio
e partilhou dois centos de pão.
Difundiu Sábio
grimórios antanhos
e ensinou-te e a mim e a si.






Mergulhão