27 de mai. de 2013

Dois Pedros

Do acaso, o querer.
Por perto estar, o bem-querer.
Entre dois Pedros
pode, sim, surgir jacinto.
Eis que me entrego e,
de fato, caio de amor
e o marco
com um beijo bento
sob o sol
 o mesmo sol que cantam passarinhos
sobre mim.
O pecado é pago a pedras
certeiras no coração.
Ele morre.
Sobrevivo.
O que era fausto, hoje me é bruno.
Meu resto definha
e então, só, compreendo:
não há defeito;
não provém falha do amor que honra o nome.
Tampouco o beijo augusto de dois
homens
sob o sol
é doentio.
Errado é quem pedra se faz
para partir o cândido espelho
do franco amor de dois
homens
sob o sol.

Mergulhão

15 de mai. de 2013

Hipocrene

Bebi das águas de Hipocrene,
poética fonte perene,
e agora vivo em palavras.

Como um eterno poeta,
somente esta arte me aquieta,
dá-me razão a viver.

Porém, um imprevisto imprevisto
alterou, veja só isto!,
o poder destas íntimas letras.

Tornou-me um viciado
e, aos poucos, tem-me jogado
à doença chamada Escrever.

Mergulhão

Idem?

Por três dias a larva rasteja
e sente as dores e a angústia da vida.
No entanto, persiste e não larga o destino.

Por duas semanas fica enclausurada
e aceita o frio e a solidão da vida;
porém, ela espera e jamais se abandona.

Então toma as asas da tal liberdade
e compreende o fluir e a leveza da vida
para, depois de um mês todo seu,

morrer.

E você?

Mergulhão

Poesia sem graça

Lindo beija-flor,
preto, verde e vermelho,
a complementar a beleza
das rosas, das azaleias,
dos copos-de-leite, enfim.

Lindo beija-flor,
preto, verde e vermelho,
que me quis por perto
para ajudá-lo a enaltecer
a essência do belo em fim.

Porém, o lindo beija-flor
preto, verde e vermelho
pousou num fio elétrico descascado
e morreu.

Mergulhão

10 de mai. de 2013

Coalhada

Patricia
amava Coriolano
que amava Alma
que amava João
que amava Jesús
que amava Sara
que amava Fausto
que amava a si mesmo,
mas não era correspondido.

Patricia foi sequestrada, apaixonou-se pelo marginal e sumiu;
Coriolano caminhou sozinho até o Tibete e por lá ficou;
Alma quebrou a coluna num carrossel e quase morreu;
João cansou de procurar um outro e abriu um clube de swing;
Jesús empregou-se no narcotráfico, levou nove tiros e, esse sim, morreu;
Sara se acomodou com Q. Arquimedes da Fonseca, que também não tinha entrado na história;
Fausto continua a amar a si mesmo sem ser correspondido.

Mergulhão,
que...

No meio, no fim e no início

no meio do caminho morava um buraco
morava um buraco no meio do outro caminho
morei num buraco
no meio daquele caminho ali morei num buraco

Nunca aqui verei asfalto que dure
nos guetos e na rua de minha vida tão abandonada.
Nunca aqui terei sequer piçarra ou piche neste caminho onde
só buraco mora.
Mora buraco por todo o caminho só.
No meio, no fim e no início do buraco falta um caminho.

Mergulhão

Promessa e jura

Não escondas do sorriso a beleza
nem da tua doce voz o encanto,
pois pereço então à beira do pranto
toda vez que tu me és incerteza.

Porque te viver é tudo o que tento
e para que em nós permaneça acesa
a flama de um querer-delicadeza,
prometo-te fazer de tudo um tanto.

E faço ainda mais, meu bem: eu juro,
nunca mais estaremos no escuro,
no sofrer de uma vida que é só dor.

E teu sorriso, tua voz, enfim,
eu juro que serão somente assim:
pedaços de uma vida só amor.

Mergulhão

6 de mai. de 2013

Salmo brasileiro

Cântico primeiro:
Madona Presidenta
(ou Catorze decembrino)

Excelente governanta
arruma os lares do Brasil.
De indigenta a estudanta;
candidata se atreveu.
Quem diria, desde infanta,
quis estrela, nunca breu.

Excelente governanta
põe a casa limpa ao seu.
Do pobre é a gerenta
nessa pátria mãe gentil;
da voz pública, intérpreta;
indivídua entre outras mil.

Excelente governanta
abre porta a mister, Tio...
De empreitadas, motorista;
mão-de-ferro aperta frio.
Podem tachar caricata,
mas é mesmo Mãe Brasil.

Parabéns pra você,
senhora presidenta.
Muita felicidade e
muitos anos divida
com os que vivem pouco,
mas ordem querem ver
para enfim sua família
do progresso beber.

Cântico derradeiro:
Nossa Senhora Presidenta
(ou Estrela-guia-pastora)

Nossa Senhora Presidenta,
olhai-nos.
Ó Alma Rubra Imaculada,
olhai-nos.
Estrela de Cinco Arpões,
olhai-nos.
Estrela de sangue nacarada,
olhai-nos.
Estrela dos oito herdeira,
olhai-nos.
Estrela dos oito vindouros,
olhai-nos.
Mãe na solidão do Amazonas,
olhai-nos.
Mãe nos rincões do nordeste,
olhai-nos.
Mãe na imensidão do cerrado,
olhai-nos.
Mãe na vastidão dos pampas,
olhai-nos.
Mãe da honra à mulher,
olhai-nos.
Mãe da proteção ao frágil,
olhai-nos.
Mãe do governo a todos,
olhai-nos.
Mãe dos meigos ministérios,
olhai-nos.
Mãe do valor à agricultura,
olhai-nos.
Mãe da estima à pecuária,
olhai-nos.
Mãe da energia criativa,
olhai-nos.
Mão que o pequeno bem tributa,
cobri-nos.
Mão que o perene crédito acorda,
afagai-nos.
Mão que a pobreza afasta,
acariciai-nos.
Mão que a miséria supera,
bolinai-nos.
Mão que a reserva fortalece,
manipulai-nos.
Eu e minha casa, minha vida
serviremos à senhora,
estrela-guia-pastora.
Eia, pois, matrona nossa,
guardai-nos
para que sejamos dignos das promessas de Silva.

Mergulhão