29 de abr. de 2013

Orquídea

Quero em teus seios,
querida,
quebrar tabus aos outros
e beber da tua flor
aquele tão nosso virgem róseo mel.
Se ponderasses meu anseio...
A vontade de me perder
com teu sexo,
que é o meu sexo,
na textura da pele igual
pelos teus lábios quentes e cálidos,
que aceitam, de minha língua,
deleite oral que só no amar,
o verbo,
penetra a carne
e justifica o ser
satisfazendo a alma.
Sou teu vaso,
teu ventre em cálice,
então transbordo puro amor.
E tu, minha beija-flor,
suga-me a orquídea sem receio
de o perfume te causar torpor.

Mergulhão

18 de abr. de 2013

Não basta bolinar a pena apenas.
Lê.
Senão palavras se repetem,
repetem,
repetem,
repetem,
repetem,
repetem,
repetem.
Senão palavras esmaecem.
Senão palavras...
Senão...

Mergulhão

16 de abr. de 2013

Abre teu olho e me segue

Vem sequestrar o moralismo de ensaios de hipocrisia
disfarçados de alvos templos de deuses do homem falho
e de histeria batizada como família sagrada
para exigir em resgate o resgate do bom sentido.
Vamos pichar os distritos federais, vis e restritos
com o sangue entornado pelo proletariado
e lavar cartas de leis com o suor de pais e filhos
cuja rotina é a curra por rijos punhos do Estado.
Vamos calar louvor ao ouro de vã e tola garganta
e fazê-la engolir que nada disso se precisa para existir sob o sol:
precisão real de fato é ser exato no dom não mais que humano de ser útil.
Abre teu olho e me segue, pois em conluio é possível
fazer da história um moinho apenas de pás que inundem
solos com sede de ordens que enfim provoquem progresso.
Eu não pergunto ou impero;
só te convoco e condeno a sobreviver consciente e
coletivamente pelo que somente apraz.
Se isso for crime, prendam-nos caso ainda assim sobre cova.
Se isso for crime, não o chame perfeito, justo, digno ou belo:
espera vaga em abstrato não perfaz mundo concreto.

Mergulhão

À la Ícaro

Hoje eu abracei um homem alto, altíssimo.
Se eu era alto, ele voava;
era nuvem de meu eu-formiga.
Foi bom; braços desengonçados, mas bom.
Vi muito lá de cima
e não tive medo de com ele fluir:
um abraço de três pares de asa.
Tentei pender em seu pescoço,
mas assim eu nos tombaria;
então restou-me o enlace de seus ombros,
o que já era bom e alto; altíssimo.
Até que o laço findou e por terra caí;
eu não mais era mais alto.
Ele pousou a mão no meu rosto e sorriu.
 Adeus, pequeno  imaginei ter-me dito.
Já me bastou.
Belo voo, altíssimo.

Mergulhão

5 de abr. de 2013

Da rosa

Leve minha rosa, meu amor, consigo,
aceite-a como a mim, seu botão.

Raiemos somente o querer-se e então
amemo-nos como tão mais que amigo.

Decore minha vida, minha rosa pura;
alegre o meu ser e me faça leve.

Não negue que, a nós, agora o amor serve:
indolor vontade da mútua candura.

La douceur des roses ne fait qu’ouvrir les coeurs
amoureux qui méritent le bonheur.

Mergulhão

4 de abr. de 2013

Putos

Desliga e vem;
sem camisa, só desejo.
Há tempos a varanda enluarada nos conhece
e, assim, merece nós dois ali;
então, bem meu, perece
somente em mim.

Não negues tão belo ofício que é regar
semente em mim.

Rouba dos gatos, amantes pardos,
gemidos longos da muda noite.
Deixa a barba;
sabes que gosto quando arranha;
teu peito 
 idem  meu viril ninho.
Toma-me forte de uma só vez
e engole tudo.
Sela-me o lombo, meu cavaleiro;
mãos à cintura e cavalguemos.
Sua, te ordeno, posto que és meu.
Usa tua língua: fala uns caralhos;
permito, sim, que muito me sujes.
Apenas sê, não estejas,

doce homem grosso
e fico teu,
finjo ser teu,
brinquedo teu,

meu puto.

Mergulhão

Mira-anhangá

O ventre da Mãe Terra perde onça, morre cobra,
choram amapazeiros, descolorem arapurus,
do solo ferido seiva bruta escorre pura.
São lanças kawira de fogo destruidor.
Então correm pela mata olhos em brasa de uma alma:
Anhangá faz guarda, pois da vida é protetor.
Segue a nota do meu pranto, ó espírito tupi!
Toró de taquara, boré, mimbi, uaí!
Bruxuleia nessas margens, ó veloz assombração!
Amazônia clama em canto o verde sangue sobre o chão.
Protege do meu rio pirarucu e jurará,
Anhangá! Anhangá! Anhangá! Anhangá!
Vinde como ave, tatu, suaçu, tapira,
Anhangá! Anhangá! Mira-anhangá!
Corre, branca sombra, dos mortos fantasma errante.
Caça pescador com teu silvo tão penetrante.
Assombra caçador do vale dos Munduruku.
Conduz ao Rio das Almas, mortal Anhangabaú!
Anhangabaú! Anhangabaú! Anhangabaú!
Cruza pelas matas, assobia pra salvar,
Anhangá! Anhangá! Anhangá! Anhangá!
Vinde como ave, tatu, suaçu, tapira,
Anhangá! Anhangá! Mira-anhangá!

Mergulhão

1 de abr. de 2013

Amar errado cansa

Sempre se soube: amar errado cansa;
tolhe criança que só quer brincar;
tola crendice de fútil esperança;
é um afogar-se em raso e morto mar.

Portanto é fim e agora tudo passa.
Não há motivo para ser vivente.
A dor te faz não mais senhor, mas caça:
resta entregar-se ao tiro tão somente.

Quando se perde o seu porto-seguro,
quando o que sobra é domínio escuro,
abrem-se os olhos da compreensão:

Eros, eu hoje tenho escudo e juro
que teus mui vis dardos do amar-futuro
minh’alma ingênua não mais cegarão.

Mergulhão

Vassalo

Ao adoecer por não mais saber ser vida,
apenas reine
sobre mim
e em mim faça castelo, minha pedra.
Asa te fiz e também raiz
para ao além chegar e fincar na volta.
Eu temo por ti:
quem muito se desprende,
como espuma em praia,
pouco ancora no si mesmo.
Me dê você
 que a mim já tem 
e resseja o que um dia foi,
refaça o que sempre fui,
reteça o então seremos.

Mergulhão