Novíssimo Estado Brasileiro é a 28ª unidade federativa
brasileira. Estabelecido no primeiro microssegundo de 31 de março
para 1º de abril de 2064 d.C. graças à revitalização de uma frente
parlamentar proposta pelos hoje finados à época tucanos federais
Sebastião Madeira e Ronaldo Dimas e instalada em 2003 para criar
estados e territórios. Aspas: o intuito foi redividir Brasil para atenuar
pobreza; aspas.
O ainda persistente PSDB em 2062 enfim urrou em júbilo ao
ver efetivo no Palácio do Planalto a sua jovem aposta
pseudopopulista João Sarney-Neves II. Sarneves; carinhosamente
assim alcunhado pelo tataravô e ídolo José Ribamar. Já que a palavra
do velho sempre fora lei, o apelido passou a sê-lo. Cortar o nariz dos
mineiros foi o primeiro grande ato democrata do presidente
debutante. Explico: mentalize-se o mapa do estado brasileiro de
Minas Gerais; retire-se a ponta à la Pinóquio.
— Meu filho, toda fé merece o santo por que paga. Dê à minha
terra o que é dela — falou-lhe arfante ao leito o outro tataravô; este,
porém, hoje já falecido de tumor no intestino em cumprimento à
maldição hereditária, a quem Sarneves chamava Vô da Cunha o que
o Brasil vulgarizou Senador do Pó.
Assim que Vô da Cunha arquejou por último, Sarneves pôs-se
a atender sua ordem. Todavia, não conseguiu transformar Minas
Gerais em capital nacional. Então traçou linha de Araguari a
Uberaba e dali para o oeste, até onde o estado tocava Goiás, Mato
Grosso do Sul e São Paulo, isolando 31 municípios para formar
Novíssimo Estado Brasileiro.
Seguem os desgarrados em ordem analfabética — caso o(a)
leitor(a) não o suporte saber, pule ao próximo parágrafo: Veríssimo,
União de Minas, Uberlândia, Uberaba, Tupaciguara, São Francisco
de Sales, Santa Vitória, Prata, Planura, Pirajuba, Monte Alegre de
Minas, Limeira do Oeste, Iturama, Ituiutaba, Itapagipe, Ipiaçu,
Gurinhatã, Frutal, Fronteira, Conceição das Alagoas, Comendador
Gomes, Centralina, Carneirinho, Capinópolis, Canápolis, Campo Florido, Campina Verde, Cachoeira Dourada, Araporã, Araguari,
Água Comprida.
O título soava simples. Sóbrio. Blasé. Esterilizado, arrisca-se.
Como a coligação não aprovou as sugestões “Cunhão”,
“UPerlândia” e “São Tristão & Virginês Maria” (este em honra a
progenitores antanhos), restou o recente Novíssimo. Duraram uma
semana a raiva e as pontadas de gastrite nervosa de Sarneves após
ser informado já existir “Tancredópolis”.
— Onde fica isso?
— Em Rondônia, meu senhor — respondeu-lhe a vice.
— Onde fica isso?
— Amazônia, meu senhor.
— Onde caralhos fica o meio do olho desse cu, MULHER?!
— Norte, meu senhor. Fronteira com a Bolívia, o Acre, o
estado do Amazo...
— Quem governa isso aí?
— Miguel Temer Neto, meu senhor.
Excelente. Amigo da família, do tráfico e do strip poker.
Sarneves sacou o telefone.
— Eita porra, Nevão! Assim tu me quebra as três pernas...
Mudar o nome do município?!
— Claro que não, estúpido. É só daquele distritozinho lá.
— Meu amigo... Isso é impossível...
— Não fode, Neto. É quase um bairro.
— Não é assim tão simples. A porra tem história.
— O mapa cabe numa tira de papel higiênico.
— Já me basta o Humberto...
— Quem?
— Humberto de Campos. Um colegiozinho aqui que eu
demoli há uns meses.
— Mas que porra de paca sem beira de Humberto, ôôô
caralho! Tô te falando de Tancredo! EU QUERO ESSE NOME JÁ!
— Não dá, Nevão...
— É mesmo, é? Tu tem parceiro aqui na cadeira, né,
Temerinho?
— Porra, Nevão... não me fode assim... só dessa vez...
Tancredópolis permaneceu rondoniense. Emedebistas
novamente perderam a presidência do Senado ao seu desafeto, um
puta partido recém-parido chamado MACROS — Militarismo
Altruísta Cristão Recuperador da Ordem Social. Independente do
batismo, o aglomerado de quase um milhão e meio de habitantes de
Novíssimo Estado Brasileiro logo foi renomeado Abortos Gerais
pelo restante de fato mineiro.
Porém, prosa mais controversa do que nomeação, causava rebu
mesmo a administração dos 31 novos municípios, cada um
devidamente rebatizado, aos quais não se elegiam deputados,
vereadores, senadores nem prefeitos — indicavam-se senhorios.
De Canteiro exportavam-se putas. Em Panema, importavam-se multinacionais. Cannabilândia; infere-se. Proletariana, a capital,
era uma wannabe do Terceiro Reich.
Mergulhão
Cara, que texto!!! Vou divulgar porque merece ser lido. É um tapa nas nossas caras. Urramos tanto por mudanças e ficamos nas mesmas merdas de sempre. Agora sacar, à lâmina, o nariz de certo Neves foi de matar de rir kkkkk
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