Um escorpião precisou atravessar um rio. Como não sabia nadar, pediu ajuda a um sapo-cururu ali perto. Assim, o escorpião subiu às costas do anfíbio e os dois foram. Na outra margem do rio, o escorpião espirrou e, no espasmo, o sapo sentiu seu ferrão.
– Mas que merda, companheiro! Tu me ferraste, eu vou morrer! – gritou o cururu.
– Não... eu não...
– Seu safado, filho de puta barata! Eu te ajudo e tu me fazes isso?! Achas que sou teu pelego?!
– Camarada, deixe-me explicar...
– Ora, vai te foder! Não me venha com falácias ou o vãos trocadilhos sobre natureza, “Ah, é da minha natureza.”; natureza o caralho! Mas toma o teu: eu também tenho minhas armas! Vais morrer também e será mais rápido que a mim!
Alguns segundos se passaram. O escorpião agonizou ao sentir o efeito da toxina leitosa do anfíbio, contorceu-se ao chão e morreu.
– Engole essa merda de natureza! Porra... pior que agora sou eu...
O sapo lá ficou esperando o último sopro. Nada.
– Vai ser a qualquer momento...
Então o sapo percebeu que o escorpião não tinha ferrão. Tratava-se de um artrópode portador de uma rara deficiência física. O lacrau, ao espirrar, apenas encostou suas pinças nas costas do sapo, para não cair na água.
O sapo olhou para um lado, depois para outro. Sacudiu a cabeça, balbuciou algo como “coisas da natureza” e “culpa da cadeia: um dia é da caça” e foi embora, à outra margem do rio. Lá havia outro passageiro em potencial.
de Mergulhão
para Jorge Sanches