9 de ago. de 2012

Que seja

Tenho refletido muito sobre tudo. Não um apego descontroladamente saudosista ou desejo de concretização de sonhos. Não. É quase como uma Sofia de Gaarder. Então me deixo à deriva do perder-se no passado, quando a preocupação única era dar fim ao dever de casa para só depois ligar os trecos eletrônicos ou trepar em árvores vizinhas. Bons tempos. Joelhos ralados. Banho de chuva às seis. Quilos de terra sob os pés. Surra paterna.

Agora é a vontade de ficar. Só. Ficar. Pairar. Observar tudo por cima. Por outros olhos, estar abaixo. Autocomiseração voluntária porque satisfaz. Por enquanto. Porque sei que após uns maços isso passa. E vou querer passar. Mas depois. Agora não; quero o estar que me causa bem. Presente? Sim. Não mais-que-perfeito; não julgo. Só sou esse estar. Porque apraz e satisfaz, eu já disse. Vivendo simplesmente porque o instante existe – aquele outro eu já disse.

É preciso o navegar-se em viagem às extremidades de si mesmo. Então assisto a corpos alheios querendo-se igualmente querendo-os. Para tê-los, não os ser. Mas não posso porque só assisto. Melhor assim. Senão enjoo, jogo fora, não reciclo e volto a ser o estar presente.
Assisto a vidas alheias em estado de destruição consciente de seu ser. Seres que agonizam por falta de altruísmo. O que os torna fúteis. Talvez seja por isso minha a vontade do meu hoje. Descartar o fútil. Por isso o celular ao canto da sala escurecida por tocos de velas espirrando. Patético, sei, mas é o querer que, caso não se atenda, cresce e inútil suicídio tornar-se. O também querer uma casa de um campo onde se possa colher amigos, livros, discos e tudo o que valha uma pena de poeta.
Que seja.
Fico por aqui, caro destinatário. Vou voltar ao tinto fino senão amarga. Qualquer coisa, você sabe onde eu estou: no ser. E, se lá eu não mais for, basta um mergulhar exato em um outrem qualquer. Afinal, isso não é de hoje. Está. Já disse.

Mergulhão

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– – – – – – – – – – – – – – – – – – o que viu nessa estrada?