12 de jul. de 2013

CEP

Um amor distante me possui. Estrangeiro de meu eu. Lá onde o sol nasce primeiro; o dele antes que o meu. Assim, enquanto ele se arruma para tomar o ônibus já lotado, eu ainda sonho com a lembrança da baunilha em seu pescoço; os dois, apertados, em concha, na cama testemunha. Dizem que amar distante é se consumir a deriva ainda que em terra. Eu pouco me importo se morro diariamente por me aventurar. Sempre tive a bússola desnorteada. Cabe-nos, a esse amor forasteiro e a mim, saber que, no Atlântico da vida, ele é o arquipélago da jangada que sou. O amor longínquo serve para nos aproximar do que nunca podemos acenar adeus. A certeza de que devemos ir além. Basta colocar três cuecas, cantil, pandeiro, sabonete, colher e isqueiro na mochila parceira e ir. Só se cria momentânea raiz quando as asas temporariamente cansam; então serão dois pares destas se o novo voo proposto partilhar o fruto que da raiz proveio. Porém, cuidado, amigo errante: amor distante não é ausente. É o presente que, por ora, recebe postais em CEP do seu diferente – somente. Do contrário, faz-se longe de fato e por escolha. E não sente.

Mergulhão

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– – – – – – – – – – – – – – – – – – o que viu nessa estrada?