Um amor distante me possui. Estrangeiro de meu eu. Lá
onde o sol nasce primeiro; o dele antes que o meu. Assim, enquanto ele se arruma
para tomar o ônibus já lotado, eu ainda sonho com a lembrança da baunilha em
seu pescoço; os dois, apertados, em concha, na cama testemunha. Dizem que amar
distante é se consumir a deriva ainda que em terra. Eu pouco me importo se
morro diariamente por me aventurar. Sempre tive a bússola desnorteada. Cabe-nos,
a esse amor forasteiro e a mim, saber que, no Atlântico da vida, ele é o
arquipélago da jangada que sou. O amor longínquo serve para nos aproximar do
que nunca podemos acenar adeus. A certeza de que devemos ir além. Basta colocar
três cuecas, cantil, pandeiro, sabonete, colher e isqueiro na mochila parceira e
ir. Só se cria momentânea raiz quando as asas temporariamente cansam; então
serão dois pares destas se o novo voo proposto partilhar o fruto que da raiz proveio.
Porém, cuidado, amigo errante: amor distante não é ausente. É o presente que,
por ora, recebe postais em CEP do seu diferente – somente. Do contrário, faz-se
longe de fato e por escolha. E não sente.
Mergulhão
Nenhum comentário:
Postar um comentário
– – – – – – – – – – – – – – – – – – o que viu nessa estrada?