Corra, Mona, de todos os
vizinhos que fuçam o seu lixo em busca das ampolas da semana. E daí se você se
atrasa todo dia segundo o relógio do seu emprego de merda no Planalto? Deixe
que falem de seus cabelos secos de três cores desbotadas. Das unhas pretas lascadas.
Do peito esquerdo, que é maior. Dos cinquenta e sete quilos. Olheiras escuras
sob órbitas míopes sem lentes. Camisas de meia e All Star encardido. Ponha os fones e permaneça em
distopia com Joplin, Morrison, Björk e Manson enquanto fuma no ponto de ônibus
após cada expediente. Seu sorriso é amarelo e a língua áspera e os outros não
precisam deles. Na verdade, os outros não precisam mais disso. Que se fodam os
outros; não, Mona? Ninguém precisa saber que todo mês você compra roupas para o
abrigo em Ceilândia de onde saiu. Ou que às madrugadas de sextas você se une a
desconhecidos de internet para distribuir sopão aos miseráveis da Asa Sul. O
que importa aos outros o rim que concedeu à Lídia, com quem você dividia
aluguel e vida – até perdê-la por causa do Clonazepam? E o coração que a ela,
cúmplice, você confiou...? Que se fodam os outros entre si. Corra, Mona, dos
que só creem na tevê e assim perturbam suas leituras de Milton Santos ao
mestrado. Corra ao Paranoá e lamente o quão raso o fizeram. Corra à JK e escale
um de seus arcos. Corra de gente acrílica que parcela imagens para espelho.
Corra de penianos que não merecem ser humanos por se prostrarem a qualquer fenda
de puta. Corra dos mais-do-mesmo que não se ocupam de suas bocas e dão prejuízo
às estatísticas do governo. Corra, Mona, corra. Quando protestarem porque Mona
corre, você lá estará adiante outra vez.
Mergulhão
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– – – – – – – – – – – – – – – – – – o que viu nessa estrada?