16 de set. de 2014

Vendo amor

A: – Olha o amor! Olha o amor! Vai levar amor, senhora?
B: – Intocado?
A: – Pouco manuseio.
B: – Embalado?
A: – Por serenatas.
C: – Ih, vizinha. Eu tive um que se cansou disso fácil.
B: – Pois é. Meu último morreu de diabetes.
A: – Esse daqui é a prova de males.
C: – Balela, vizinha.
B: – Não; obrigada.
A: – Olha o amor! Quem vai querer?
D: – Ainda na caixa?
A: – Torácica.
D: – Mas esse tá frio.
A: – À noite pulsa.
D: – Como?
A: – Depende do TOC.
D: – Hum. Sei se quero, não.
A: – E quem não quer, não é verdade? Olha o amor!
E: – Olha, Carlos...
F: – Que é isso aí?
A: – Amor, senhor! Levem! Dois perfazem um. E, com mais amor, três.
E: – É sério...?
A: – E com sorte ali da outra banca, gêmeos.
E: – Leva, Carlos... Faz tempo que a gente não comp...
F: – Que porra de levar! Tu entoca tanto dessas porra lá e depois não dá conta.
A: – Amor! Amor! Olha o amor!
G: – Olha, amor.
A: – Experimentem, meus jovens.
H: – Tem na versão gay?
A: – É amor, não há versão. Levem.
H: – Obrigado. Já temos; era só pra constar!
A: – Nenhum amigo precisando?
G: – Verdade, amor. Vamos levar pro Edir. Coitado.
H: – E pro Jair e pro Silas. Marco também, né?
G: – É. Mas cabe neles?
A: – Polissex. Entrando pela cabeça, cabe.
H: – Me veja quatro. Quanto é?
A: – Nada, jovem. Amor não tem preço.
H: – Mas você não vende amor?
A: – Vender? Não! Não vendo. Desvendo. Uma vez desvendado, ama-se.
G: – Tá vendo, amor?! Ainda existe!
H: – Então me dê mai...
(Sirene.)
A: – Toma, moço, leva logo!
H: – Mas o que é isso?!
A: – É a batida, moço! O rabecão! Ele baculeja e quebra tudo! Vão logo!
(Pararam na banca da sorte e assistiram ilesos ao desvendedor atirar amor contra seus agressores vendados.)


Mergulhão

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– – – – – – – – – – – – – – – – – – o que viu nessa estrada?