Só se conhece uma pessoa quando ela está nua.
Despida de marcas e discursos verbais. Então quem fala é o corpo. A boca apenas
geme e reproduz os espasmos dos sons do corpo. A boca sai da categoria de corpo
físico e paira apenas. Quando a pessoa está nua diante de outra nenhum
empecilho pode atravessá-la. Nem projétil em formato de conceito ou juízo ou dogma
ou lei. Certamente é indispensável que a segunda pessoa proponha-se igual
nudez. Isto é ser humano: corpos em diálogo. E basta. Tem-me sido assim Augusto.
Ele nu diante de mim era o ser mais vulnerável de todos. Vulnerabilíssimo. E
pujante. Como eu. Consumir Augusto era bom. Não era como Glória. Glória é macia
demais. Mais do mesmo demais por enquanto. O contexto do uso de Augusto era
áspero. Os lábios de Augusto eram o oráculo que eu – nunca de deuses –
profanava. O corpo espelhar em atrito recíproco. Éramos objeto um ao outro. Eu
sempre discordei do ato de moldar outrem mero objeto. Mas não há erro ou
desconforto desde que a utilização seja mútua. Eu amava enfim se era isso o
amar porque amar é um contrato. Amar é jogo de interesse. Interesse na vontade
de manipular corpos-objeto. O que daí por fim derive é acidente. Dentro de
Augusto noite adentro ele me pede para continuarmos nesse cíclico trauma que seria
eu vivê-lo e ele a mim. Eu neguei. Eu não poderia me acidentar rotineiramente ainda
que o objeto Augusto me fosse satisfatório. Eu deveria me disponibilizar sempre
pessoas nuas. Eu ainda necessitava me regozijar com minhas ocasionais glórias e
meus brinquedos faustos e meus diários brunos. Eu me despedi de Augusto. Eu o
conhecia afinal. Não havia mais por que me prostrar no momento. Só se conhece
uma pessoa quando se mapeia às cegas cada orifício seu. Eu já compreendia todos
os poros de Augusto. Eis que acorda nova noite e me surge outro corpo augusto
que se propõe reproduzir os espasmos dos sons do meu corpo. Mais uma vez tatearei
conhecimento porque alguém só se admite como pessoa quando se está nu diante de
outra.
Mergulhão
Tenho muito a dizer dos temas expostos no texto, mas só deixarei uma coisa AMEI MUITOOOOO... e gostaria de poder ter um dia só pra falamos horas e horas sobre ele...
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