7 de ago. de 2013

Sobre tato e consumo

Só se conhece uma pessoa quando ela está nua. Despida de marcas e discursos verbais. Então quem fala é o corpo. A boca apenas geme e reproduz os espasmos dos sons do corpo. A boca sai da categoria de corpo físico e paira apenas. Quando a pessoa está nua diante de outra nenhum empecilho pode atravessá-la. Nem projétil em formato de conceito ou juízo ou dogma ou lei. Certamente é indispensável que a segunda pessoa proponha-se igual nudez. Isto é ser humano: corpos em diálogo. E basta. Tem-me sido assim Augusto. Ele nu diante de mim era o ser mais vulnerável de todos. Vulnerabilíssimo. E pujante. Como eu. Consumir Augusto era bom. Não era como Glória. Glória é macia demais. Mais do mesmo demais por enquanto. O contexto do uso de Augusto era áspero. Os lábios de Augusto eram o oráculo que eu – nunca de deuses – profanava. O corpo espelhar em atrito recíproco. Éramos objeto um ao outro. Eu sempre discordei do ato de moldar outrem mero objeto. Mas não há erro ou desconforto desde que a utilização seja mútua. Eu amava enfim se era isso o amar porque amar é um contrato. Amar é jogo de interesse. Interesse na vontade de manipular corpos-objeto. O que daí por fim derive é acidente. Dentro de Augusto noite adentro ele me pede para continuarmos nesse cíclico trauma que seria eu vivê-lo e ele a mim. Eu neguei. Eu não poderia me acidentar rotineiramente ainda que o objeto Augusto me fosse satisfatório. Eu deveria me disponibilizar sempre pessoas nuas. Eu ainda necessitava me regozijar com minhas ocasionais glórias e meus brinquedos faustos e meus diários brunos. Eu me despedi de Augusto. Eu o conhecia afinal. Não havia mais por que me prostrar no momento. Só se conhece uma pessoa quando se mapeia às cegas cada orifício seu. Eu já compreendia todos os poros de Augusto. Eis que acorda nova noite e me surge outro corpo augusto que se propõe reproduzir os espasmos dos sons do meu corpo. Mais uma vez tatearei conhecimento porque alguém só se admite como pessoa quando se está nu diante de outra.

Mergulhão

Um comentário:

  1. Tenho muito a dizer dos temas expostos no texto, mas só deixarei uma coisa AMEI MUITOOOOO... e gostaria de poder ter um dia só pra falamos horas e horas sobre ele...

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– – – – – – – – – – – – – – – – – – o que viu nessa estrada?