3 de nov. de 2013

Sabiá-Uirapuru

Solitário no ninho
morava um sabiá
que não sabia cantar.
Como ser passarinho
sem ré, mi, fá, sol, lá?
Buscou quem lhe ensinar,
o mudo amarelinho.
Voou por Ceará,
Japão, Madagascar,
mas só teve acalanto
ao voltar ao seu galho
porque Sabiá ouviu
um doce e suave canto
vindo de um carvalho:
claro como um rio,
leve como o vento,
um uirapuru vermelho
cantava horas a fio.
Sabiá se aproximou
e lhe pediu lição.
Uirapuru amigo
o pequeno ajudou.
De tanta afinação,
cumplicidade e apego,
Sabiá se apaixonou;
abriu seu coração,
piou: “ Fica comigo
por muitas primaveras?”
e a emoção não coube
ao canto de resposta:
 Eu te amo deveras.
Te amo, sempre soube,
e nada mais me basta
que te amar por eras.
Não haverá quem roube
de, nosso amor, a nota.”.
Porém, um vil abutre
(vulgo: Mau Urubu)
aos dois amantes disse:
 Mas isso não se nutre!
Sabiá-Uirapuru?!
Amor sujo e tolice!”
e perfurou o ventre
do lindo Uirapuru,
que soou baixo e foi-se.
Assim viu-se sozinho,
voando baixo errante,
Sabiá em desamor.
Nunca mais fez ninho
nem retumbou contente;
perdeu, do canto, a cor.
Tornou-se o passarinho
dos bandos o mais triste,
desafinado em dor.

Mergulhão

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– – – – – – – – – – – – – – – – – – o que viu nessa estrada?