morava um sabiá
que
não sabia cantar.
Como
ser passarinho
sem
ré, mi, fá, sol, lá?
Buscou
quem lhe ensinar,
o
mudo amarelinho.
Voou
por Ceará,
Japão,
Madagascar,
mas
só teve acalanto
ao
voltar ao seu galho
porque
Sabiá ouviu
um
doce e suave canto
vindo
de um carvalho:
claro
como um rio,
leve
como o vento,
um uirapuru vermelho
cantava
horas a fio.
Sabiá
se aproximou
e
lhe pediu lição.
Uirapuru
amigo
o
pequeno ajudou.
De
tanta afinação,
cumplicidade
e apego,
Sabiá
se apaixonou;
abriu
seu coração,
piou:
“— Fica comigo
por
muitas primaveras?”
e a emoção não coube
ao
canto de resposta:
“— Eu te amo deveras.
Te
amo, sempre soube,
e
nada mais me basta
que
te amar por eras.
Não
haverá quem roube
de,
nosso amor, a nota.”.
Porém,
um vil abutre
(vulgo:
Mau Urubu)
aos dois amantes disse:
“— Mas isso não se nutre!
Sabiá-Uirapuru?!
Amor
sujo e tolice!”
e
perfurou o ventre
do
lindo Uirapuru,
que
soou baixo e foi-se.
Assim
viu-se sozinho,
voando
baixo errante,
Sabiá
em desamor.
Nunca
mais fez ninho
nem
retumbou contente;
perdeu,
do canto, a cor.
Tornou-se
o passarinho
dos
bandos o mais triste,
desafinado
em dor.
Mergulhão
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– – – – – – – – – – – – – – – – – – o que viu nessa estrada?