É tão triste se sentir incompleto.
Todos cantam ao redor da aparente alegria.
Aos outros, tudo é colorido. E brilha!
Não que eu desdenhe a não solidão alheia.
Não; já superei essa fase. O inquietante é a pergunta interna que teima em me
lembrar não ter ainda resposta: nasci pra ser sozinho mesmo?
Onde está meu direito de uma utopia onírica
ou qualquer ilusão digna de Werther? Nem seria necessário ter estilo Jack e
Rose em proa de barquinho fracassado ou Montéquios e Capuletos a brincarem de
cicuta – não faz meu gênero.
Essa lamúria não mais surte efeito em mim. O
que me domina então é o medo de acabar em cem anos de mútua mudez íntima ou
Macabéa de mim mesmo apenas esperando a hora do estrelato. A falta do
verdadeiro tato recíproco corrói.
Eu só queria ter o prazer puro de admirar seu
silencioso sorriso por horas. Eu só queria poder testemunhar seus olhos escuros
abrindo à luz de cada alvorada. Eu só queria acariciar-lhe o rosto, meu espelho
à la Narciso, no qual me identifico. Eu só queria tomar-lhe em meus abraços num
abraço terno. Eu só queria seu calor em noite chuvosa de domingo ao som de uma
versão ininterrupta de Comptine d’un autre été.
Eu só quero tê-lo.
Pois é o complemento a minha melhor doação.
Confronta minha sanidade a capacidade de ser
humano e amar. E sofrer. Mas regozija meu ceticismo o fato de para todo mau
porquê haver cura, para todo doloroso passado existir remédio.
Esta é a razão para que, apesar de minhas
tristes incompletudes, eu não desista de buscar verdade definitiva para a tal
pergunta.
Mergulhão
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– – – – – – – – – – – – – – – – – – o que viu nessa estrada?