7 de jan. de 2014

Caça-coração

Entenda, coração,
que ontem o caçador
hoje é manhosa caça
porque se permitiu.
Às vezes é sadio
sentir que é vez do alguém
roer-se de paixão,
bater cabeça em mesa,
doar-se como Werther,
salvar-se feito Ismália,
imaginar duendes.
Qual mais gozo haveria
se mel platonicista
fosse só de uma abelha?
Quando se caça apenas,
do amor logo descrê,
o caçador falido.
Mas Eros é mais sádico:
assim coração-caça
incorpora o coitado
a travestir-se alvo
a ficar esperando
 boate, esquina e bar 
o tiro então certeiro.
Vai lá, coração, caça,
qu’eu já tô cá quietinho,
exato no rebote.

P.s., meu querido:
também sei atirar.

(E só mais um p.s.:
atiro em coração.)

Mergulhão
 

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– – – – – – – – – – – – – – – – – – o que viu nessa estrada?