9 de jan. de 2014

Ninho

Olha só, minha morena,
a gente bem que poderia
só morrer aos cento e vinte.
Lembras qu’o amor veio assim,
chegou instantâneo assim
simples e rápido ao ponto?
Digo mais: nos foi certeiro;
cri em ti e ainda creio.
Como aquarela em linho
destilada com teu riso,
num passado eu bem te li
e até hoje eu mui te leio.
Desse jeito te fizeste,
tu, a mim, perfeito ninho.
Todo amante sem vergonha
sabe que quando é sem plano
sobra-se amor inteiro.
Não brinco de bem-me-quer,
pois não firo margaridas
nem sou de violar violetas.
Não consulto cartomantes,
pois me bastam tuas cartas
sob as quais ensaio ninho
durante rotina errante.
Então vem, morena minha;
vem boêmia, solta e livre.
Deita e aninha teus cabelos
no meu peito, faz cachinhos,
molda-me homem-menino
e te entorpeço em cafuné.
E mesmo que a cara insônia
reine madrugada afora,
quando enfim sono te cansa,
eis que acordas girassol
 procurando nosso céu
em nossa tela-janela 
e te moves
e me olhas
e me beijas
tão deveras
que me faz sobreviver.

de Mergulhão,
para Raehli Hage.

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– – – – – – – – – – – – – – – – – – o que viu nessa estrada?