17 de jan. de 2014

Capitulina

Começa na escola:
eu jogando bola,
você na gangorra;
recreio, adoleta
com salada-mista,
rolés na garupa.
Crescemos unidos,
vizinhos colados,
nas chuvas dos nus.
A cada Ano-Novo,
a gente de novo
casava em segredo.
Chegou tempo adulto;
querer infinito
rendeu corpo mútuo.
Mas rotina em contas,
silêncios, suspeitas
e sutis pedradas
fez, do mel, vinagre
do qual meu alegre
amor-colibri
sorveu tolo e cego,
sangrou pelo ego
sem mais regozijo.
Sua pele mentiu:
ao meu toque riu
a um que não eu.
Trocou-me por Zé,
Zulu do Tripé,
Tomé, Désirée...
E nossas memórias
não passam de histórias
de coitos atrás
da igreja em vigília;
do teatro, à coxia;
do banco do Fusca.
Assim, antes bento,
dos céus o mais santo,
em ódio me afundo.
Enfim aos cinquenta
(nos cabelos, tinta;
fraldão; dentadura)
você reaparece
feito quem se esquece
qu’amor de verdade
 como o que te dei 
ao descumprir lei
não dura um haicai.
Então, sua vadia,
nem mais poesia
você de mim tira.

Mergulhão

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– – – – – – – – – – – – – – – – – – o que viu nessa estrada?