Você é patético. E você sabe disso. Contenta-se com
a falta do se permitir. Trepa só por causa do monitor de 42 polegadas. Trepa com
aspas, com ausência de essência, com deficiência de amor que lhe poderia ser próprio.
Então você se cansa do nada ou por nada ter feito para tentar mudar suas abstinências.
Você se embala em redes sociais reclamando – orgulhoso – que está triste porque
a vida sacaneia mesmo boas pessoas como você. E você gosta disso. E você sabe
disso. Afinal, lágrimas virtuais servem para inundar o teclado e manipular fãs
mais doentes que você. Você é ridículo. Romanos antigos nos dizem que o ridículo
é um ser digno de escárnio. Você os lê, sim. Mas você tem preguiça de
compreender e buscar mais. Se ao menos você admitisse que escárnio também pode
ser gozo, você seria, assim, louvável, se caçasse mais gozo. Mas você é trágico.
Você se acha pérola rara e faz do seu quarto na casa paterna a sua ostra, pagando
por mil mídias a prestação. E gadgets e aplicativos e tevês a cabo e pornôs
fúteis e amigos talvez fakes em algum país qualquer e álbuns do momento sem, ao
menos, ter um destes que conte e cante de fato a sua vida. Tudo lá é feito para
ser perfeito; para você, óbvio. Você torna lixo não reciclável a oportunidade
de voar. Para romper o autocontrato do espetáculo do declínio, bastaria que
você levantasse da cama já amontoada de roupas, tomasse um banho, vagasse por ruas
e vidas alheias afora e colecionasse novidades adentro. É mais vendável ser
triste. Você conhece o mito da caverna. Ainda que brisa fraca não mova moinhos,
você vai persistir em ser o fraco suspiro de um asmático velho. Isso mata; não
suicida. E você sabe disso. Tenha mais um bom dia. Para você, óbvio.
Mergulhão
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– – – – – – – – – – – – – – – – – – o que viu nessa estrada?