1 de dez. de 2013

Chico Chicote e a certeza do desequilíbrio

Veja só, eu lembro dele e sinto saudades, era um grande amigo, era um irmão, acho que nunca esquecerei de como ele fez a minha infância mais feliz, não sei das outras crianças, mas, eu não tive amigos humanos até completar 10 anos, na verdade, acho que a maioria eram só de amizades aparentes, pelo menos as que fiz na escola fundamental.
Só no ensino médio eu devo ter encontrado amigos de fato, antes disso, não sei, porém, tive grandes amigos caninos, e o melhor dos amigos, o meu mais querido irmão que me fez companhia dos 6 aos 8 anos se chamava Chicote, mamãe o chamava de Chico e lhe dava bananas, eu o apelidei de Biscoito porque ele adorava comer biscoitos comigo, ele era um macaco prego de pelagem preta lustrosa com marcas marrons e lindos olhos amarelados.
Acho que ele me adotou quando chegou em casa, meu irmão o trouxe após voltar de uma caçada na densa floresta que fica ao redor do meu sítio, ele era um filhotinho e eu uma menina estranha, formávamos uma bela dupla. Lembro das crianças caçoando de mim por andar sempre com o macaquinho no ombro para todo canto no sítio.
Ás vezes, quando penso no meu querido Chico, lembro que poderíamos ser o título de um livro: O macaco e sua menina. Ele cuidava de mim, e eu o amava da forma mais pura que uma criança pode amar. Naquela época eu costumava subir em árvores com ele e brincar por longas horas sem nunca sentir tédio, o olhar dele era de um brilho sem igual, tenho certeza que o seu olhar me transmitia paz e alegria.
Hoje, depois de muito tempo senti uma pontada no coração ao lembrar dele, senti uma saudade imensa e cheguei a chorar, não sei mais se ele está vivo ou morto, deve estar morto, já faz tanto tempo desde a última vez que o vi, o Chico foi tirado de mim quando uma de minhas primas apareceu no sítio e quis comprar o meu amigo para ser o bicho de estimação dela, meu irmão o vendeu e eu chorei por muitos e muitos dias, e depois esqueci dele.
Afinal, eu era muito nova e crianças esquecem logo das tristezas e pensam que logo tudo vai se resolver, mas, quando visitei a chácara do meu tio aos 9 anos pude ver o Chico preso numa gaiola de ferro, fiquei chateada por ele estar preso e quando tentei soltá-lo para poder abraçar o seu corpinho magro e familiar ele avançou para me morder e quase arranca um pedaço da minha mão direita, nesse momento percebi que o meu amigo havia morrido da pior forma possível.
Ele não era mais o mesmo, não me reconhecia, estava agressivo por ter começado a viver numa gaiola, eu nunca havia prendido ele antes, pelo contrário, quando Chico vivia no sítio comigo eramos irmãos de verdade, ele nunca foi meu bicho de estimação, sempre foi meu grande amigo.
Ver o novo Chico me deixou desolada, pensei em como teria sido se a minha prima nunca tivesse comprado o meu amigo, e ele continuasse comigo no sítio brincando e sendo livre, nesse dia eu também morri um pouco ao descobrir como o ser humano pode transformar vidas de animais e pessoas e nem se abalar ao destruir os elos que unem o ser a natureza do ser.


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– – – – – – – – – – – – – – – – – – o que viu nessa estrada?