Veja só, eu lembro dele e sinto
saudades, era um grande amigo, era um irmão, acho que nunca esquecerei de como
ele fez a minha infância mais feliz, não sei das outras crianças, mas, eu não
tive amigos humanos até completar 10 anos, na verdade, acho que a maioria eram
só de amizades aparentes, pelo menos as que fiz na escola fundamental.
Só no ensino médio eu devo ter encontrado amigos de fato, antes disso, não sei,
porém, tive grandes amigos caninos, e o melhor dos amigos, o meu mais querido
irmão que me fez companhia dos 6 aos 8 anos se chamava Chicote, mamãe o chamava
de Chico e lhe dava bananas, eu o apelidei de Biscoito porque ele adorava comer
biscoitos comigo, ele era um macaco prego de pelagem preta lustrosa com marcas
marrons e lindos olhos amarelados.
Acho que ele me adotou quando chegou em casa, meu irmão o trouxe após voltar de
uma caçada na densa floresta que fica ao redor do meu sítio, ele era um
filhotinho e eu uma menina estranha, formávamos uma bela dupla. Lembro das
crianças caçoando de mim por andar sempre com o macaquinho no ombro para todo
canto no sítio.
Ás vezes, quando penso no meu querido Chico, lembro que poderíamos ser o título
de um livro: O macaco e sua menina. Ele cuidava de mim, e eu o amava da forma
mais pura que uma criança pode amar. Naquela época eu costumava subir em
árvores com ele e brincar por longas horas sem nunca sentir tédio, o olhar dele
era de um brilho sem igual, tenho certeza que o seu olhar me transmitia paz e
alegria.
Hoje, depois de muito tempo senti uma pontada no coração ao lembrar dele, senti
uma saudade imensa e cheguei a chorar, não sei mais se ele está vivo ou morto,
deve estar morto, já faz tanto tempo desde a última vez que o vi, o Chico foi
tirado de mim quando uma de minhas primas apareceu no sítio e quis comprar o
meu amigo para ser o bicho de estimação dela, meu irmão o vendeu e eu chorei
por muitos e muitos dias, e depois esqueci dele.
Afinal, eu era muito nova e crianças esquecem logo das tristezas e pensam que
logo tudo vai se resolver, mas, quando visitei a chácara do meu tio aos 9 anos
pude ver o Chico preso numa gaiola de ferro, fiquei chateada por ele estar
preso e quando tentei soltá-lo para poder abraçar o seu corpinho magro e
familiar ele avançou para me morder e quase arranca um pedaço da minha mão
direita, nesse momento percebi que o meu amigo havia morrido da pior forma
possível.
Ele não era mais o mesmo, não me reconhecia, estava agressivo por ter começado
a viver numa gaiola, eu nunca havia prendido ele antes, pelo contrário, quando
Chico vivia no sítio comigo eramos irmãos de verdade, ele nunca foi meu bicho
de estimação, sempre foi meu grande amigo.
Ver o novo Chico me deixou desolada, pensei em como teria sido se a minha prima
nunca tivesse comprado o meu amigo, e ele continuasse comigo no sítio brincando
e sendo livre, nesse dia eu também morri um pouco ao descobrir como o ser
humano pode transformar vidas de animais e pessoas e nem se abalar ao destruir
os elos que unem o ser a natureza do ser.
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– – – – – – – – – – – – – – – – – – o que viu nessa estrada?