2 de nov. de 2012

Dos eus

Dos eus
(ou Poeta, o finge-dor)
(ou Puta do escrever)

Não sei se creio em poetas, os finge-dores.
Fernando estava certo: essas pessoas dissimulam.
Vendem eus como quem transplanta amor
e de vis torres empurram Ismálias
e não permitem acordar passarinhos
e bulinam coisa linda mais cheia de graça
e, loucos, cantam só porque o instante existe
e a bucólicos Dirceus agenciam mil Marílias.
E quando algum ludibriado pede satisfação
pela pena que por vez aqui agride ou acolá,
eis que dizem:
Não sou eu! Foi eu-lírico!
Cobra do eu-bíblico heresia anunciada.
Por isso não me dou a tal gentalha;
são homens de palavras mesmo não as tendo;
quase puta diplomada, uma rameira do escrever.
Mas réu confesso como eu transborda masoquismo
e da cegueira faz-se o renascimento da luz:
sou igual, camaleão;
de sangue-tinta, sou irmão;
brinco de tempo e senhor de vidas;
faço carne do verbo-mor que no princípio barro era;
semideus perfeito mesmo usa mesmo é muitas linhas.
Convenhamos, papiro hoje cai melhor disfarce.
Então sou lírico Ouroboros:
produzo, pois, prosas e rimas
querendo outros enganar;
respiro, pois, Joões/Marias,
teimando, sim, tudo inspirar.

Mergulhão

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– – – – – – – – – – – – – – – – – – o que viu nessa estrada?