13 de nov. de 2012

Sonho-eu

Antes eu era um sonho. Porque eu tinha um. E quando se tem, é-se.
Eu tinha um milhão. Um monte de sonhos.
Mas sonhos semissolitários.
Os que têm por companhia apenas moscas-de-padaria
viciadas em açúcar que só sonhos compreendem.
Eu disse "era" porque não sei se de fato acabei.
Afinal, como sonhos acabam?
Por causa das moscas que os estragam? Que nos estragam?
Não entendo.
Sonhos bons são os que se concretizam?
Se assim for, eu estou me concretizando:
virando concreto frio; cimento sem açúcar;
acabamento entre azulejos sujos de banheiros morais que escoam sonhos.
Ou o resto visceral destes.
Medo maior é do paralelo paradoxal que alerta:
sonho concreto
(sonho frígido,
rígido,
duro,
cinzento,
indegustável,
causador de indigestão e choro)
é sonho perdido.
Nem às moscas deixado.
Mas... concretizar-se não é ser eterno?
Ou mais vale ser infinito enquanto doce?
Eis concreta abstração.

Mergulhão

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– – – – – – – – – – – – – – – – – – o que viu nessa estrada?